Panorama | 15/01/2021
Entenda por que já era hora de a Ford deixar de produzir no Brasil
A marca tem 6 motivos para dar adeus ao País como fabricante. E alguns são culpa só dela
Historiadores dizem que 1918 foi um dos piores anos da história da humanidade. Não bastasse o mundo entrar no quinto ano dos horrores da Primeira Guerra Mundial, ele ainda teria de sofrer com a chacina da gripe espanhola, que dizimou de 50 milhões a 100 milhões de pessoas ao final de dois anos dessa pandemia.
Como ninguém aqui viveu aquela época, podemos concordar que 2020 foi o mais dramático da nossa existência. Mas antes de esquecer de vez o ano que passou, é importante relembrar o que aprendemos com uma experiência tão traumática. E dá para dizer que o mercado automobilístico tirou desse ano cinco importantes lições.
1) Relançar antigos ícones é uma ótima aposta |
Reviver modelos que viraram lenda nunca foi uma aposta tranquila. Em 2002, a Ford fracassou ao tentar resgatar o saudosismo do Thunderbird 1955. Em 1997, a Chrysler celebrou os antigos hot rods dos anos 30 e 40 com o Plymouth Prowler e também não foi longe. Em 2020, porém, dois ícones retornaram à vida e causaram grande alvoroço entre os fãs (e não-fãs também).
O Ford Bronco, já confirmado para o Brasil, pode render US$ 1 bilhão de lucro para a Ford
O novo Ford Bronco foi tão bem aceito que provocou uma alta de 11% nas ações da Ford em uma semana. Analistas estimam que a marca vá ter um lucro de quase US$ 1 bilhão de dólares em um ano de produção, pois deve vender facilmente 125 mil unidades anuais, considerando uma margem unitária estimada de US$ 7.500. É por isso que o SUV já está confirmado para estrear ao Brasil em 2021.
As vendas do novo e caríssimo Hummer esgotaram-se em apenas 10 minutos
Do lado da GM, o renascimento do Hummer – agora uma ambientalmente correta picape elétrica de 1.000 cv – recebeu elogios de crítica e público. O primeiro lote foi todo vendido em apenas 10 minutos, apesar de custar incríveis US$ 112.500 – um Corvette nos EUA começa em US$ 59.000.
2) Fabricantes descobriram nova fonte de receita |
Por mais de 100 anos, os fabricantes de carros ganharam dinheiro basicamente fabricando carros. Mas, enfim, eles descobriram que dá para faturar alugando os próprios automóveis que produzem. Ainda é um negócio incipiente, mas promissor. As marcas perceberam que as locadoras proporcionalmente ganhavam mais dinheiro do que as próprias fábricas, especialmente com a venda de usados. Em geral são serviços de assinatura mensais, uma espécie de Netflix do carro, que já inclui seguro, impostos e manutenção.
Tiguan e T-Cross fazem parte do novo serviço de carro por assinatura da VW
Foi por isso que vimos em 2020 uma explosão de locadoras ligadas às fábricas. A Volkswagen criou o Sign&Drive com o T-Cross e o Tiguan, a partir de R$ 1.899 mensais. A Toyota dispõe do Kinto, que também oferece os modelos de luxo da Lexus. A FCA apresentou o serviço Flua!, disponível para dez modelos Fiat e Jeep a partir de 15 de janeiro. A Nissan iniciou um projeto piloto, por enquanto restrito a quem é ligado à fábrica ou aos fornecedores.
Até o segmento de luxo entrou nessa onda: o Audi Luxury Signature custa a partir de R$ 9.590 mensais ou R$ 11.990 se for um blindado e o Osten Fleet é indicado a quem deseja um BMW ou Jaguar (há até modelos elétricos), oferecido por uma rede de concessionárias.
3) Tesla escapou de vez da falência |
A Tesla, que produz o Model 3, registrou prejuízo de US$ 1 bilhão em 2018
Equivalente à Apple da indústria automobilística, a Tesla estava à beira da falência em meados de 2019, como o próprio CEO Elon Musk já revelou. E não foi a primeira vez: em 2008 esteve a três dias de ir à bancarrota quando caiu do céu um investimento de US$ 40 milhões. De fato, desde a fundação, em 2003, a empresa californiana só deu prejuízo até chegar em 2020, quando enfim se tornou lucrativa – só em 2018 chegou a perder US$ 1 bilhão.
Agora, no entanto, essa ameaça virou história por três razões: conseguiu normalizar a produção e a entrega do Model 3, seu modelo mais barato, abriu sua primeira fábrica na China (o maior mercado do mundo para veículos elétricos) e iniciou a construção de outra planta na Alemanha, para abastecer os consumidores europeus. Foi ainda em 2020 que ela ultrapassou a Toyota como montadora mais valiosa do mundo (US$ 207,6 bilhões em julho), devido também a cinco trimestres consecutivos de lucros movidos pela venda de créditos de emissões a outros fabricantes.
4) Nosso mercado reagiu acima do esperado |
No ápice da pandemia no Brasil, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetava uma queda no PIB nacional para 2020 de até 9,1%, lembrando que o pior número dos últimos 30 anos foi a redução de 3,55% em 2015. Nem precisa dizer que o cenário para a indústria automobilística também era catastrófico. Mas o que se viu foi uma retomada da economia muito rápida, especialmente no segmento de veículos.
A recuperação da indústria automobilística foi tão rápida que faltou até carro para entregar
As vendas internas em novembro já estavam nos níveis pré-pandemia e as exportações do mês subiram 38% mais que no ano passado. Os números de 2020 só não serão melhores porque os estoques ficaram baixos demais e faltou matéria-prima, o que pressionou os preços para cima e deixou algumas fábricas sem veículos para entregar.
5) Todos passaram a investir nos elétricos |
A questão agora já não é se o carro elétrico vai dar certo. É quando ele passará a ser o principal produto da indústria. É verdade que no Brasil a questão é mais complexa, mas no exterior esse é um movimento sem volta.
Em 2021, a Volvo não venderá mais carros apenas com motor a combustão, mesmo no Brasil
Segundo a publicação especializada Automotive News, a Volkswagen vai investir US$ 41,5 bilhões até 2025 apenas em veículos elétricos, a Ford gastará US$ 11,5 bilhões em elétricos e híbridos até 2022, a GM aumentou seus gastos em 35% chegando a US$ 27 bilhões até 2025 e o grupo Hyundai/Kia destinará US$ 43 bilhões até 2025. A Volvo já avisou que só vai comercializar híbridos e elétricos (incluindo no Brasil) em 2021 e que 50% das suas vendas em 2025 serão de elétricos, atingindo 100% em 2030. Enquanto isso, os novos projetos de motor a combustão vão perdendo recursos ou sendo cancelados.
Mesmo no Brasil, apesar de não haver política de incentivos como na Europa, nos EUA, no Japão e na China, os veículos elétricos começaram a virar realidade, principalmente entre os veículos de serviço, já que seu custo operacional é cerca de 65% menor.
A venda total de modelos eletrificados (inclui os híbridos) deve fechar o ano em 19.000 unidades. É muito pouco comparado ao tamanho do mercado brasileiro, mas é 60% maior do que em 2019 e 378% acima de 2018. Entre os automóveis, Mercedes, Porsche e Audi lançaram veículos 100% elétricos. Entre os comerciais, a Volkswagen fechou em outubro a venda do primeiro lote de 100 caminhões elétricos e-Delivery para a Ambev. E isso é só o começo.
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Consultor do mercado automobilístico e jornalista especializado na área há 26 anos, Zeca Chaves é colunista do AUTOentusiastas e do portal Automotive Business; foi editor do caderno Veículos da Folha de S.Paulo e trabalhou por 19 anos na revista Quatro Rodas, onde foi redator-chefe.
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